OS DIFERENTES MODOS REPRODUTIVOS DOS ANUROS

Os anfíbios anuros são os tetrápodes que apresentam a maior diversidade de modos reprodutivos. Atualmente, são conhecidas 39 variedades em todo o mundo, que podem ser classificadas, basicamente, pela forma e local da desova, presença ou ausência de estágio larval, se o girino se alimenta ou não, e cuidado parental, quando presente. Na região Neotropical são conhecidos 31 diferentes modos reprodutivos, que variam desde os mais simples, caracterizados pela deposição dos ovos diretamente na água, até os mais complexos, com o desenvolvimento direto e viviparidade.

Allobates aff. brunneus carregando os filhotes no dorso. 

Exemplificarei aqui, alguns dos modos reprodutivos presentes nas espécies brasileiras.

A desova direta em ambientes aquáticos é o modo mais comum entre os anuros. Dos ovos, surgem girinos exotróficos (que se alimentam), e que sofrerão metamorfose posteriormente. Essa desova pode ocorrer em água parada (Modo 1) ou em água corrente (Modo 2), como visto em diversas espécies das Famílias Hylidae, Leptodactylidae e Bufonidae, por exemplo.

Algumas espécies de Hilídeos, como Boana faber, Boana crepitans e Bokermannohyla hylax desovam em piscinas construídas pelos machos ou em pequenas piscinas naturais (Modo 4) – dessa forma, os ovos e girinos ficam protegidos contra alguns predadores aquáticos. Quando o nível da água sobe, invade as piscinas, e os girinos (que já estão maiores) se deslocam para poças ou riachos.

Os representantes do gênero Physalaemus e algumas espécies de Leptodactylus depositam seus ovos em ninhos de espuma flutuante, em corpos d’água lênticos (Modo 11). Diversas funções podem ser atribuídas para a espuma dos ninhos, como proteção contra dessecação de ovos, embriões e larvas, proteção contra predadores, fornecimento de oxigênio, manutenção de temperaturas adequadas para o desenvolvimento e fonte alimentar.

Os anuros da Família Pipidae apresentam o modo reprodutivo 15. Os ovos permanecem no dorso das fêmeas, de onde eclodem girinos exotróficos. As espécies da Família Brachycephalidae, apresentam reprodução totalmente terrestre. O desenvolvimento é direto, ou seja, não ocorre fases de girino. Dos ovos, já eclodem miniaturas do adulto (Modo 23).

A postura de ovos em folhas sobre corpos d’água é uma característica das Famílias Centrolenidae e Phyllomedusidae, além de alguns Hilídeos (como Dendropsophus haddadi e Dendropsophus decipiens). Após a eclosão, os girinos caem em água parada (Modo 24) ou em água corrente (Modo 25).

As fêmeas do gênero Fritziana carregam os ovos no dorso. Os girinos são endotróficos (não se alimentam) e permanecem em água acumulada em bromélias ou bambu (Modo 36).

Os modos reprodutivos mais especializados são geralmente observados em gêneros que tem poucas espécies, restritos à ambientes florestais. Esse é o caso do gênero Gastrotheca, cujas fêmeas carregam os ovos no dorso e possuem desenvolvimento direto – dos ovos eclodem sapinhos formados (Modo 37).

Esses são apenas alguns dos modos reprodutivos presente nos anuros neotropicais. Incrível essa imensa variedade, né? A grande diversidade de modos reprodutivos dos anuros parece ter sido resultante de condições ambientais adequadas, além de um amplo conjunto de pressões seletivas (como por exemplo predação, competição intraespecífica, imprevisibilidade de chuvas) e da evolução prolongada de várias linhagens filogenéticas nos diferentes biomas neotropicais.

Você encontra a lista completa de todos os modos no estudo de (Haddad & Prado 2005).

Referências Bibliográficas

HADDAD, C. F. B. & PRADO, C. P. A. 2005. Reproductive  modes in frogs and their unexpected diversity in the Atlantic Forest of Brazil.  BioScience 55 :207-217.

POMBAL JR., J. P. & HADDAD, C.F.B. 2005. Estratégias e modos reprodutivos de anuros (Amphibia) em uma poça permanente na Serra de Paranapiacaba, Sudeste do Brasil. Pap. Avulsos Zool. (São Paulo), São Paulo ,  v. 45, n. 15, p. 215-229

HADDAD, C. F. B.; TOLEDO, L. F. and PRADO, C. P. A. 2008. Anfíbios da Mata Atlântica: guia dos anfíbios anuros da Mata Atlântica. São Paulo: Editora Neotropica. 244 p.

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